segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

VERDADES E FANTASIAS

Verdades e Fantasias "Mas, porque vos digo a verdade não me credes." - Jesus. (JOÃO, 8:45.) O mundo sempre distingue ruidosamente os expositores de fantasias. É comum observar-se, quase em toda a parte, a vitória dos homens palavrosos, que prometem milagres e maravilhas. Esses merecem das criaturas grande crédito. Basta encobrirem a enfermidade, a fraqueza, a ignorância ou o defeito dos homens, para receberem acatamento. Não acontece o mesmo aos cultivadores da verdade, por mais simples que esta seja. Através de todos os tempos, para esses últimos, a sociedade reservou a fogueira, o veneno, a cruz, a punição implacável. Tentando fugir à angustiosa situação espiritual que lhe é própria, inventou o homem a "buena-dicha", impondo, contudo, aos adivinhadores e disfarce dourado das realidades negras e duras. O charlatão mais hábil na fabricação de mentiras brilhantes será o senhor da clientela mais numerosa e luzida. No intercâmbio com a esfera invisível, urge que os novos discípulos se precatem contra os perigos desse jaez. A técnica do elogio, a disposição de parecer melhor, o prurido de caminhar à frente dos outros, a presunção de converter consciências alheias, são grandes fantasias. É necessário não crer nisso. Mais razoável é compreender que o serviço de iluminação é difícil, a principiar do esforço de regeneração de nós mesmos. Nem sempre os amigos da verdade são aceitos. Geralmente são considerados fanáticos ou mistificadores, mas ... apesar de tudo, para nossa felicidade, faz-se preciso atender à verdade enquanto é tempo. EMMANUEL

O ANJO DA LIMPEZA

O Anjo da Limpeza Adélia ouvira falar em Jesus e tomara-se de tamanha paixão pelo Céu que nutria um desejo único — ser anjo para servir ao Divino Mestre. Para isso, a boa menina fez-se humilde e crente, e, quando se não achava na escola em contacto com os livros, mantinha-se na câmara de dormir em preces fervorosas. Cercava-se de lindas gravuras, em que os artistas do pincel lembram a passagem do Cristo entre os homens, e, em lágrimas, repetia: — “Senhor, quero ser tua! quero servir-te!...” A Mãezinha, em franca luta doméstica, embalde convidava-a aos serviços da casa. Adélia sorria, abraçava-se a ela e reafirmava o propósito de preparar-se para a companhia do Divino Amigo. A bondosa senhora, observando que o ideal da filha só merecia louvores, deixava-a em paz com os estudos e orações de cada dia. Meses correram sobre meses e a jovem prosseguia inalterável. Orando sempre, suplicava ao Senhor a transformasse num anjo. Decorridos dois anos de rogativas, sonhou, certa noite, que era visitada pelo Mestre Amoroso. Jesus envolvia-se em vasta auréola de claridade sublime. A túnica luminosa, a cair-lhe dos ombros com graça e beleza, parecia de neve coroada de sol. Estendendo-lhe a destra compassiva, o Cristo observou-lhe: — Adélia, ouvi tuas súplicas e venho ao teu encontro. Desejas realmente servir-me? — Sim, Senhor! — respondeu a pequena, inflamada de comoção jubilosa, convencida de que o Salvador a conduziria naquele mesmo instante para o Céu. — Ouve! — tornou o Mestre, docemente. Ansiosa de pôr-se a caminho do paraíso, a jovem replicou, reverente: — Dize, Senhor! estou pronta!... Leva-me contigo, sinto-me aflita para comparecer entre os que retêm a glória de servir-te no plano celestial!... O Cristo sorriu, bondoso, e considerou: — Não, Adélia. Nosso Pai não te colocou inutilmente na Terra. Temos enorme serviço neste mundo mesmo. Estimo tuas preces e teus pensamentos de amor, mas preciso de alguém que me ajude a retirar o lixo e os detritos que se amontoam, não longe de tua casa. Meninos Cruéis prejudicaram a rede de esgoto, a pequena distância do teu lar. Aí se concentra perigoso foco de moléstias, ameaçando trabalhadores desprevenidos, mães devotadas e crianças incautas. Vai, minha filha! Ajuda-me a salvá-los da morte. Estarei contigo, auxiliando-te nessa meritória tarefa. A menina preocupada quis fazer perguntas, mas o Mestre afastou-se, de leve... Acordou sobressaltada. Era dia. Vestiu-se à pressa e procurou a zona indicada. Corajosa muniu-se de desinfetantes, armou-se de enxada e vassoura pediu a contribuição materna, e o foco infeccioso foi extinto. A discípula obediente, todavia, não parou mais. Diariamente, ao regressar da escola, punha-se a colaborar com a Mamãe, em casa, zelando também quanto lhe era Possível pela higiene das vias públicas e ensinando outras crianças a serem tão Cuidadosas, quanto ela mesma. Tanto trabalhou e se esforçou que, certo dia, o diretor do grupo escolar lhe conferiu o título de Anjo da Limpeza. Professoras e colegas comemoraram festivamente o acontecimento. Chegada a noite, dormiu contente e sonhou que Jesus vinha encontrá-la, de novo. Nimbado de luz, abraçou-a, com ternura, e disse-lhe brandamente: — Abençoada sejas, filha minha! agora, que os próprios homens te reconhecem por benfeitora, agradeço-te os serviços que me prestas diariamente. Anjo da Limpeza na Terra, serás Anjo de Luz no Paraíso. Em lágrimas de alegria intensa, Adélia despertou, feliz, compreendendo, cada vez mais, que a verdadeira ventura reside em colaborar com o Senhor, nos trabalhos do bem, em toda parte. NEIO LUCIO